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A luta pela consciência negra é um dever dos capoeiristas.

A luta pela consciência negra é um dever dos capoeiristas.

No último dia 20 de novembro, no Lar Fabiano de cristo, em Bayeux, onde trabalha há 23 anos o Contra Mestre Marivan, foi desenvolvida uma atividade sobre a consciência negra, com um debate, onde participei como entrevistado e que foi transmitido em reunião pela internet, para membros internos do Lar e também gravado para o Instagram. É o Encontro afro, desenvolvido há 14 anos nesta instituição. Através dos perfis @geraangola e @jequitibaa é possível ver a gravação desses dois dias e fotos. 



 

O contra mestre Marivan já trabalha há alguns anos com dois grupos percussivos, o Orin Asé e Os Crioulos, que tocam Samba Reggae, principalmente. Dentro de sua sala funcionam aulas de percussão, capoeira, dança afro e os jovens matriculados são atendidos e podem ingressar nas oficinas, onde saem com um proveitoso conhecimento dessas práticas afro-brasileiras e criam um vinculo eterno com o que ali aprenderam. Os grupos percussivos são muito bem ensaiados e as musicas são ótimas, as danças também são muito bem executadas pelos dançarinos, danças essas que enaltecem o corpo negro, seu empoderamento e valor do sagrado, fazendo referência a luta e aos Orixás. Os instrumentos percussivos são, às vezes, fabricados pelos alunos e o contra mestre, improvisados, mas também adquiridos já prontos. As letras tem como referência o Ilê Ayê e Olodum.

Este espaço propõe um ótimo meio para discussão do tema e da tomada de consciência pela população negra, pois o empoderamento proporcionado é muito bom e ativo entre os alunos. Posteriormente, o mesmo grupo, Os Crioulos, ensaiou no largo de São Frei Pedro Gonçalves (Centro histórico de João Pessoa), onde existe o Coletivo dos Capoeiristas do Estado da Paraíba e onde também é desenvolvido um projeto para a implementação da capoeira nos currículos escolares, através da lei 10.639, em que um capoeirista devidamente graduado poderá dar aula em uma instituição pública de ensino. Lá o contra mestre Marivan está dando aulas de percussão, movimento, até onde sei inédito na comunidade. 



Durante o ensaio dos Crioulos fizemos fala contra o genocídio da população negra, inclusive a morte com espancamento de um homem negro no estabelecimento Carrefour, que já coleciona casos de racismos. O samba reggae e a capoeira nasceram como movimentos emancipatórios; a capoeira como uma maneira de defesa e busca por liberdades e direitos, sendo resistência da negritude contra a opressão e o samba reggae, influenciado pelo reggae jamaicano dos anos 70, vem com o forte messianismo rastafari de libertação do povo negro e consciência africana, que vigorou fortemente nos anos 80, na Bahia e até então tem força. O movimento negro e os blocos afro juntaram a atuação política com a artística. Não podemos esquecer que também perdemos o Mestre Moa do Katendê, que seria uma primeira vitima conhecida e culturalmente importante a ser assassinada no início dos movimentos racistas que ascenderam com os governos de direita. Não podemos esquecer que nossas ações, como afro-americanos no Brasil são políticas e culturais, que na verdade não há uma separação rígida, a política é a cultura e a cultura é a política. Nós dançamos, lutamos, cantamos e temos um desafio, que é unir a negritude espalhada pelo país, que está na periferia, sobretudo a que está entregue a criminalidades e são alvos das chacinas. Não podemos esperar pelos racistas e pelo vestibular excludente. 



 


 

Nós! Capoeiristas, regueiros(as), sambadeiros(as), negros(as), gritamos contra todas as formas de racismo e opressão. Contra o espistemicídio e genocídio da população negra! Estamos aqui, unidos e nos articulando cada vez mais nessa luta!

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