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O Ponto de Cem Réis Afroindígena.

 

Um lugar mágico, que foi onde primeiro conheci através dos palcos de shows de São João da prefeitura de João Pessoa e Festa das Neves, palcos de verão... Certo dia estava no Cem Réis e não lembro por que, muito cedo, iria fazer algo pelo centro e lá estavam as pessoas mais curiosas que já pude ver, jogando debaixo das duas árvores da entrada, alguns em situação de rua, mendigos, um homem de macacão sujo de tintas coloridas parecendo um pintor, outros deficientes físicos, um outro com a perna maior do que o tronco e enfim, toda a classe mais baixa da sociedade e excluída que habita as ruas vivendo ali no começo da manhã, pegando a sopa distribuída e sobrevivendo de seus produtos.

Ao meio dia, chegando no Cem Réis com o sol rachando  o côco, pois é um pátio enorme e plano, imitando um lugar aí da Europa que não sei aonde é mas basta pesquisar aí na net que tem, é possível ver os sobreviventes da terra do sacode (cada um se vira como pode) vendendo qualquer coisa e o Brasil acontecendo em meio ao centro de uma capital pequena, africanos, indígenas e nativos, vendendo e comprando. Lá já teve e ainda deve ter roda de capoeira, tem teatro de rua e como já afirmei, shows, e é com certeza um centro de manifestação popular. Tem o famoso Paraíba Palace Hotel que se destaca na borda da praça dominado pelo povo em sua base, não me pergunte o que funciona lá hoje. Em (http://jpcultura.joaopessoa.pb.gov.br/espaco/8/) pode-se ler que lá foi demolida a igreja do Rosário dos Pretos como medida da tal “modernização”. Para quem tem aquela fezinha em Pretos velhos isso explica muita coisa do que rola por lá.

Pessoas vendendo o que podem; um pátio que se ilumina festivamente nos momentos oportunos e em que vira e mexe aparecem os raizeiros oferecendo seus serviços medicinais ao alcance de todos e a liberdade que a praça dá para que isso aconteça é muito boa, em um período que estamos perdendo cada vez mais nossas matas para os fazendeiros, grileiros e a cultura indígena vem sofrendo seus diversos ataques há lá o oferecimento das curas para depressão, problemas respiratórios e ainda dá pra sair com produtos especiais dos Pajés, como bolsas e maracás.

Velhinhos e pessoas das mais variadas idades param para olhar e receber os cartões dos vendedores das garrafadas, que são batidas na hora no pilão e tudo é explicado, para que serve e todos atentos a aula da pajelança esperando a cura ou pelo menos a melhora de seus males. São as muambas que permeiam o lugar de resistência popular. Saberes importantíssimos ainda ao nosso alcance. Viva o Ponto de Cem Réis!



 


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