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Peter Tosh e Burning Spear: Um Kung Fu e um Boxeador.

 


Primeiro quero oferecer essa postagem a Guitinho da Xambá, do grupo Bongar, que faleceu na tarde de quinta-feira. Seu grupo e modo de fazer Coco de roda influenciou recentemente muita gente e chamou a atenção, possamos dizer, para a tradição do Coco de terreiro.

Em segundo lugar, quero chamar atenção para outro aspecto deste texto, que é: não possui uma pesquisa histórica esquematizada e parte de interpretações e vivências pessoais, ou seja, vai até onde minha experiência pode apreender sobre os dois artistas e ativistas que aqui pretendo expor, que são os dois regueiros: Peter Tosh e Burning Spear.

 O que quero chamar atenção para a obra desses dois artistas é o fator do corpo, como ambos em suas performances utilizavam as artes marciais, Burning Spear utiliza, digo no presente pelo fato de o mesmo ainda estar vivo, movimentos do Boxe, enquanto Peter Tosh utilizava movimentos do Kung Fu. Como reggeiros, racializados e militantes, a mensagem de ambos possui um caráter contestador, espiritual, amoroso e também pacifista, já que são múltiplas as influências do período em que desenvolviam suas cansções: anos 60,70 e 80, Burning Spear estando ainda ativo.

Enquanto Burnig Spear, além de tocar as suas congas, muito bem por sinal, faz os movimentos de Boxe em alguns momentos de sua performance, o que para mim sempre indicou um caráter de luta, vigor e não conformismo, liberdade, convite a luta e ao discurso, ou seja, a luta social inserida na performance corporal, enquanto Peter Tosh, além de executar golpes de Kung Fu/Karatê? utilizava uma guitarra no formado de uma arma, indicando ao mesmo tempo um caráter contestador mas pacifista, já que a arma ali, estava sendo transformada em um instrumento musical; a arma seria a música.

Burning Spear

Peter Tosh (1)

                                                                     Peter Tosh (2)

Peter Tosh, além de já ter sido agredido fisicamente nos anos 70, devido aos conflitos políticos na Jamaica, foi assassinado dentro de sua própria casa, o mesmo também era militante da legalização da maconha. Burning Spear segue com sua mensagem e aparentemente não desenvolveu uma militância tão direta quanto Peter Tosh. O que quero destacar nesse debate é que o Pacifismo e a reação violenta estavam subscritas na performance de ambos nos palcos e no discurso, sendo que Peter Tosh parece ter levado mais ao nível prático e por isso sofreu mais sansões e reações até o seu assassinato, não quero, no entanto, colocar essa impressão como algo definitivo, pois se trata de uma interpretação. O que penso é que nas suas performances corporais essas contradições envolvendo uma luta real, uma possibilidade de luta; o que faziam na prática e os efeitos gerados estão contidas possibilidades de reação, já que a arma real de ambos era a arte, as influências múltiplas que estavam em voga (cinema e outros artistas), linhas de atuação movimento negro, pacifismo e violência, a arte marcial como uma expressão de luta e resistência e que esses artistas para mim, sintetizavam tudo isso em sua performance corporal e sua arte de uma maneira geral, que com isso procuravam transmitir uma mensagem política e social para os oprimidos racializados: Negrxs. Que pelo menos para mim serviu e serve até hoje de fonte de inspiração para estudo desses movimentos sociais e de nossa colocação enquanto negrxs na sociedade.

 Fonte de apoio: http://reggaespotlights.blogspot.com/2011/12/peter-tosh-e-as-artes-marciais.html

 

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